'Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.' Clarice Lispector
quinta-feira, 31 de março de 2011
Mais uma vez olhou ao seu redor, o amor não queria aparecer.
Se o tempo de espera fosse curto, mas anos não correspondiam mais a um tempo pequeno.
Seus olhos davam a entender que um grito resolveria, mas sua voz sumiu diante do que ouviu.
Não seria fácil engolir cada palavra solta no ar, mas era preciso, para o amor não abandoná-la novamente.
O silêncio se fazia aliado, seria melhor assim.
Se todos pudessem entender, mas ninguém compreendia, ninguém a apoiaria.
- Amor não se compreende!
Ecos mentais, guiando seus passos, determinando onde pisar.
- Não! Pare! O amor te persegue! Acorde e perceba jovem aprendiz!
Se fosse fácil como a dor de um corte, mas isso dói mais, sangra e fere mais, não se cicatriza tão fácil assim.
- Entenda! Embora te quero, me quero, e te queria, mas ao meu querer, te quero!
E o querer gritou mais que sua própria voz, precisava daquele carinho momentâneo, daquela atenção pequena, que aos seus olhos era o mundo aos seus pés.
sábado, 26 de março de 2011
As mãos no rosto escondiam os olhos azuis e as bochechas pintadinhas com sardas.
Dizia em tom alto, tão alto quanto seu coração pudesse ouvir:
- Não se apaixone mais, não se iluda mais, o amor não te reconhece, não é sentimento digno de ti.
Mas num lapso momentâneo seus olhos lavavam a alma e as pintinhas ficavam maiores dentro das lágrimas que escorriam.
Pensava que não havia mais concerto, o coração estava estragado e pronto, ninguém podia consertá-lo.
Estragado de tantas porcarias que sentia tanto amor acumulado nas veias e nenhum correspondido com sinceridade.
Já não sabia mais viver, de nada adiantava sua silenciosa beleza, seus olhos azuis, espelhos da alma, que ao verem o amor a olho nu, estampava um sorriso platônico no rosto, e passava, fazendo vento com aroma de perfume novo, recém tirado da caixa, mas não havia sentido, não a olhava, e os cachos ruivos continuavam ao vento, sem serem notados.
- Olhai pra mim doce amor, olhai, sentiste meu perfume? Rosas recém colhidas, e de nada adiantou, os espinhos cortaram, o sangue sujou o branco aveludado das pétalas e mais uma vez você desviou os olhos.
Sentia que aquele mundo não era real.
- Platonismo falso, coisas que a literatura estampa em livros, mas ninguém o sentiu de verdade, puro engano.
E de enganos em enganos o coração se perfura.
- Não entendes o óbvio? Deixa-te de enganos menina doce e venenosa, teus lábios não se encaixam com os dele, teu coração não tem a cor do dele, e ainda insistes em tentar? Engana-te, engana-te!
Não pudera evitar, era mais forte que ti, mais forte do que tudo que fazia sentido, aos olhos dos outros era paixonite de adolescente, aos seus olhos azuis era o destino traçando seus rumos nas curvas sem graça que tinhas no corpo.
- Perceba que aqueles sorrisos não pertencem a ti, e ainda insistes? Pra que se magoar a toa?
Mas pra ela o amor não era à toa, era a chama inquieta dentro de si.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Lua Cheia no Perigeu
Traços desenhando o céu nas formas tuas
Curvas definidas da mais doce perfeição
Cabelos ao vento e o som da noite é a música ideal
Teu anil se mistura com meu celeste, azul, doce, mas ainda sim azul
Iluminando as faces da corada imperfeição
Somos dois, milhões de partículas borbulhando em nós
E o coração só obedece ao que lhe chama ao pé do ouvido
Estrelado céu anil e não quero notá-lo
Quero desejar-te, possuir-te, me perder nas curvas celeste com meu azul anil iluminando teu rosto
E se não bastar tais súplicas de amor anoitecido
Deixo o brilho do olhar mais intenso aos teus cuidados
Espelhos d’água ao som das brisas mais esvoaçantes
Brilhantes como a estrela nesta noite que vai se acabando
Colocando ao fim mais um som boêmio,
O som das curvas que um dia segui com as mãos,
Sentia-se o arrepio profundo do ‘sentir’
E com as mãos nos olhos tentava procurar distração pra tal pecado
- Dó de mim não tens, Deus? Pobre mortal passando por essa tentação..
E com os olhos já cheios de água, a si mesmo respondia,
- Não, não tens dó, é carma a se pagar, desejar tal pessoa, essa sim tem meus desejos nas mãos e ainda sim brinca com tal chama, sabendo que não queima mais
Olhando para o horizonte só sentia o aroma, e a chama incandesceu
Tornou-se fogo a dominar, ardeu, queimou
Porém naquela noite de lua cheia com brisa de outono e aroma de jasmim sabia-se que a chama era contida no seu próprio queimar, se destruiu, como quem não se conhece mais.
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