sábado, 26 de março de 2011




As mãos no rosto escondiam os olhos azuis e as bochechas pintadinhas com sardas.
Dizia em tom alto, tão alto quanto seu coração pudesse ouvir:
- Não se apaixone mais, não se iluda mais, o amor não te reconhece, não é sentimento digno de ti.
Mas num lapso momentâneo seus olhos lavavam a alma e as pintinhas ficavam maiores dentro das lágrimas que escorriam.
Pensava que não havia mais concerto, o coração estava estragado e pronto, ninguém podia consertá-lo.
Estragado de tantas porcarias que sentia tanto amor acumulado nas veias e nenhum correspondido com sinceridade.
Já não sabia mais viver, de nada adiantava sua silenciosa beleza, seus olhos azuis, espelhos da alma, que ao verem o amor a olho nu, estampava um sorriso platônico no rosto, e passava, fazendo vento com aroma de perfume novo, recém tirado da caixa, mas não havia sentido, não a olhava, e os cachos ruivos continuavam ao vento, sem serem notados.
- Olhai pra mim doce amor, olhai, sentiste meu perfume? Rosas recém colhidas, e de nada adiantou, os espinhos cortaram, o sangue sujou o branco aveludado das pétalas e mais uma vez você desviou os olhos.
Sentia que aquele mundo não era real.
- Platonismo falso, coisas que a literatura estampa em livros, mas ninguém o sentiu de verdade, puro engano.
E de enganos em enganos o coração se perfura.
- Não entendes o óbvio? Deixa-te de enganos menina doce e venenosa, teus lábios não se encaixam com os dele, teu coração não tem a cor do dele, e ainda insistes em tentar? Engana-te, engana-te!
Não pudera evitar, era mais forte que ti, mais forte do que tudo que fazia sentido, aos olhos dos outros era paixonite de adolescente, aos seus olhos azuis era o destino traçando seus rumos nas curvas sem graça que tinhas no corpo.
- Perceba que aqueles sorrisos não pertencem a ti, e ainda insistes? Pra que se magoar a toa?
Mas pra ela o amor não era à toa, era a chama inquieta dentro de si.

Um comentário:

  1. Eu poderia citar varias partes de seus texto, gostei dos diálogos, é um estilo que enriquece mto seu texto. Amei essa passagem: '

    "aos olhos dos outros era paixonite de adolescente, aos seus olhos azuis era o destino traçando seus rumos nas curvas sem graça que tinhas no corpo."

    Tu esta ecsrevendo cada dia melhor e transmitindo cada dia mais sentimento. Parabéns K!

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